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Zotero: um ótimo gerenciador de referências científicas

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por Alan C. Andrade
26 de março de 2021

Muitas ferramentas científicas tem surgido para facilitar a vida do pesquisador. E uma delas, que acabo usando quase diariamente hoje em dia é o Zotero. Há algum tempo, cheguei a fazer uma postagem no Twitter sobre ele. Essa ferramenta já me salvou de algumas situações como perdas de documentos e anotações e sempre que possível recomendo para os conhecidos e amigos. O uso para médicos e profissionais que precisam checar informações científicas com muita frequência é fantástico. A mensagem no Twitter foi essa:

"Eu acho que o Zotero é uma ótima ferramenta acadêmica. É open source, ótimas atualizações, rápido, confiável e altamente configurável. Realmente não entendo por que é tão subutilizado. #AcademicTwitter #AcademicChatter #neurotwitter #Neurology."

Você conhece o Zotero?

Segundo a Wikipédia, o Zotero (em alfabeto fonético: zoʊˈtɛroʊ) é nada mais que um software gerenciador de referência. Estes softwares são muito usados em vários cenários, em diversos nichos acadêmicos diferentes, e gerenciam de forma escalável bancos de dados relativamente complexos de artigos, separados por datas, tipo de artigo, e mais outros muitos detalhes configuráveis. O primeiro programas deste tipo a que tive acesso foi o EndNote, que é muito bacana sim de usar, mas: é caro. Para o usuário final, ou esporádico, o custo para o uso acaba sendo um revés, e que custa algo em torno de 600 a 1500 reais em outubro de 2020. O EndNote é muito bem desenvolvido, mas o preço não me parece valer a pena considerando as opções que temos.

O Zotero é um software livre e de código aberto para gerenciar dados de bibliografia e materiais relacionados a pesquisa (como arquivos tipo PDF). As características principais são a integração com navegadores, sincronização online, geração de citações em texto, rodapés e bibliografias, bem como a integração com os processadores de texto (Microsoft Word, LibreOffice, OpenOffice.org Writer, e NeoOffice). É produzido pelo Centro de História e Novas Mídias (Center for History and New Media) da Universidade de George Mason (George Mason University).

Pelas pesquisas no histórico da documentação (changelog) do programa, a primeira versão beta pública foi em 5 de outubro de 2006. No seu próprio site, é possível baixar as versões mais antigas e ver como o programa foi evoluindo ao longo do tempo. Quando comecei a usar as funcionalidades eram mais limitadas, e o programa com frequência apresentava falhas, travamentos e "bugs" em geral. Melhorou muito. O uso é bastante fluido e as atualizações são frequentes e automáticas. De tempos em tempos (a cada duas semanas?) uma nova versão surge como sugestão de instalação e o processo é feito sem maiores problemas.

Vídeo em português, do canal do YouTube Tu Quer Saber Mais?, sobre como usar o Zotero, partindo do básico

Funcionalidades (muito) úteis e instalação

Existem basicamente duas formas boas para usar no dia-a-dia, para que ele fique bem ajustado e agilizar sua escrita científica (ou de artigos em geral). O programa pode ser instalado no seu navegador, como no Google Chrome ou no Firefox, através de uma extensão, um "conector" como eles chamam. Daí, você pode fazer a integração com o Google Documentos e usar ele praticamente todo online, algo muito útil para trabalhos remotos ou quando você não está com o seu computador pessoal. Já existem conectores também para o Safari da Apple, e até para o novo Edge da Microsoft (!).

Outra forma de fazer é através do programa no seu sistema operacional para uma forma que eles chamam de standalone. Uso no Windows, mas você pode instalar também para Linux e Mac. Depois disso, é só ligar o programa no seu editor de texto. Na documentação do site do Zotero:

"Esses plug-ins, disponíveis para Microsoft Word, LibreOffice e Google Docs, criam bibliografias dinâmicas: insira uma nova citação no texto em seu manuscrito, e a bibliografia será atualizada automaticamente para incluir o item citado. Corrija o título de um item em sua biblioteca Zotero e com um clique de um botão a mudança será incorporada em seus documentos."

Em resumo, algumas funcionalidades importantes e úteis:

1. Integração com o Google Documentos. Se você escreve artigos em grupo, na nuvem, referenciar os trabalhos em escrita compartilhada funciona muito bem. Você precisa instalar o Zotero no PC antes.

2. Edição de estilo de citações. É possível editar os estilos de diferentes citações no Zotero. Editar o "estilo" dos formatos é muito útil, pois algumas publicações pedem que os pesquisadores escrevam textos que são de um tipo ou de outro, como as regras da APA ou da ABNT, por exemplo.

3. Salvar os documentos que você vê num site é algo muito importante, tanto quando se citam artigos científicos de bases de dados como a Pubmed, ou quando citamos trabalhos da Scielo, ou mesmo páginas da web que você precisa citar.

4. Quer mais funções? Existem várias. Vale muito a pena checar a parte de documentação deles. Há uma grande chance de que uma funcionalidade específica que você pensou esteja incluída no site deles. Neste texto tem algumas informações a mais sobre recursos avançados do programa. Se você souber de programação ou quer se aventurar no código do programa, como ele é muito aberto a novas ideias, é possível ajudar a implementação.

No canto superior direito da tela - aqui no caso através do Google Chrome - é possível "adicionar artigos na sua base de artigos do Zotero. É importante que o programa esteja aberto no seu desktop.

Na tabela da seção abaixo detalho um pouco mais sobre outras funcionalidades importantes e a diferença do Zotero para outro famoso gerenciador de referências, o Mendeley.

Plano gratuito ou plano pago?

Eu ainda não assino a versão paga, mas acho que é uma opção muito boa, ainda mais se você calcular o benefício da ferramenta para sua vida acadêmica. A versão paga tem 300mb de espaço de armazenamento, um tamanho que me parece bem tranquilo para gerenciar referências de um projeto, ou um trabalho de conclusão de curso da graduação. Dá pra fazer um "upgrade" de forma relativamente fácil e aconselho fazer com o próprio pessoal do Zotero, tanto pelo suporte que eles dão quanto para ajudar no projeto deles.

Tela inicial do site principal do Zotero. Informações claras, e bem diretas.

Zotero ou Mendeley?

A pergunta talvez mais famosa no mundo dos gerenciadores de referência provavelmente é se preferimos o Mendeley, ou se preferimos o Zotero. Cada um tem a sua "torcida". Como um fã do Zotero, sou suspeito para falar, mas aqui vão algumas coisas alguns pontos que considero fundamentais para considerar as duas opções.

Aqui vai um resumão das características básicas:

Adaptado e traduzido da Universidade de Toronto e da Universidade de Wisconsin, em Madison

A evolução do Zotero não vai parar por aí

Há alguns tópicos bem "quentes" sobre os usos avançados do Zotero. As novidades das plataformas de escrita, anotação e manejo de referências, com ótimas funções prometem uma revolução na escrita científica. Temos a integração de escrita de textos em Markdown - com uso de código em R ou Python embarcado - e também as novidades da recente integração para uso de R Markdown com suporte nativo incluso no RStudio. Também tenho visto propostas para adaptar o aplicativo de anotações Notion fazendo com que ele possa se integrar com o Zotero. Além disso, o uso de formatação LaTeX com compartilhamento de referências é algo bem promissor, já que muitas revistas tem utilizado formatação LaTex para criação de "templates" dos seus formatos de artigos. Nesta página você vai encontrar um plugin do Zotero que fornece algumas soluções (página em inglês) de como fazer integrações necessárias para uso de formatos LaTeX e BibTeX.

Vale comentar ainda que por ser de código aberto o Zotero tem a vantagem de no longo prazo de não ter, a princípio, a questão do risco empresarial (privado) de falências, insolvência ou problemas econômicos que as empresas tem de certa forma. Algo muito bom dos softwares abertos e curados por uma grande comunidade, é que o risco de você não "receber" o serviço ou não ter acesso ao site é muito pequeno. O Zotero vai estar aí "na praça" por muito tempo...

Por fim, vale lembrar que o uso de software gratuito não significa que a comunidade que o realiza, disponibiliza, hospeda, e o mantém não tem custos fixos. Há vários custos envolvidos e vale muito a pena doar para projetos assim. Considere pagar pelo serviço para ajudar a comunidade. Ajude e o use o Zotero e sugira modificações se possível. Vai baixar? Pode iniciar as viagens ao Zotero por aqui.

Postagem atualizada, em 26/03/2021. Publicado inicialmente em 29/09/2020 às 22:15h.

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