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Mudanças no horizonte: novas propostas de diagnóstico do Alzheimer e suas implicações

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por Alan C. Andrade
21 de julho de 2023

Tenho visto uma série de postagens em redes sociais sobre uma eventual mudança nos critérios diagnósticos para a doença de Alzheimer. É o chamado alvoroço, em bom português. Como tudo isso pode surfar na onda da "novidade boa", gostaria de deixar um alerta aos colegas médicos, principalmente neurologistas, psiquiatras e geriatras, especialistas que lidam com o assunto mais frequentemente.

 

Há dois documentos significativos que propõem mudanças substanciais na abordagem diagnóstica da doença de Alzheimer, e a discussão já vem sendo antecipada pelo menos há 5 anos. Um texto de 2018, NIA-AA Research Framework: Toward a biological definition of Alzheimer’s disease, é voltado principalmente para a pesquisa, e não era destinado à aplicação no cuidado clínico dos pacientes. O texto fala sobre como se deveriam utilizar biomarcadores para o diagnóstico em contexto de pesquisa. Os exames se referem principalmente a novos biomarcadores de imagem, líquido cefalorraquidiano (líquor) e no soro (sangue) que poderiam ajudar a detectar a doença em situações reais, mas com melhor precisão.

 

Contudo, agora em Julho de 2023, coincidindo com o principal congresso da área, o AAIC, foi publicado o texto NIA-AA Revised Clinical Criteria for Alzheimer's Disease, discutindo principalmente a evolução do framework de pesquisa para a formulação dos critérios de diagnóstico e estágios da doença que, agora, poderiam também ser aplicados tanto na pesquisa, quanto na prática clínica. Ambos os documentos representariam sem dúvida uma mudança de paradigma na forma como entendemos e diagnosticamos a doença de Alzheimer. É importante lembrar que ainda estão em discussão e sujeitos a revisões.

 

O documento é um rascunho, que ainda está sendo submetido a ampla revisão crítica pela comunidade científica. É uma proposta, ainda sujeita a mudanças. Podem ocorrer muitas. E, são previstas algumas, ainda mais a luz de respostas de especialistas, profissionais, e de possíveis implicações para os sistemas de saúde pública e privada, principalmente nos EUA. Isso ocorre em paralelo a divulgação de pesquisas envolvendo novas medicações -aducanumabe (Aducanumab), lecanemabe (Lecanemab), e donanemabe (Donanemab) - e controvérsias sobre os efeitos benéficos e adversos documentados.


Postagem na conta oficial da Alzheimer Association, dando ênfase aos avanços discutidos no congresso, em 2023.

 

O documento obviamente não tem "jurisdição" no Brasil, que possui um sistema regulatório diferente mediado pela ANVISA, o que deverá ser oportunamente discutido também por especialistas daqui. Devemos avaliar e ponderar sempre como isso poderá afetar os cuidados baseados em evidência e proteger os pacientes, sem causar um fardo de custos e intervenções desnecessárias: às famílias, para o SUS, aos planos/convênios, que em última análise recairão sobre nós mesmos. A demência é um problema excessivamente custoso: no "ano zero" do diagnóstico os custos podem aumentar em cerca de 10 vezes.

 

Se qualquer um de nós resolver concordar com a proposta, ou discordar, a atitude mais sensata no momento me parece escrever para quem está liderando a proposta, a Associação de Alzheimer (Alzheimer Association), que é uma ONG sediada nos EUA, ou para o NIH, que é um órgão governamental por lá e responsável por ações de pesquisa e desenvolvimento em saúde, através do canal que criaram para isso. Na página é possível consultar o comitê de especialistas, médicos e não médicos, responsáveis pela autoria do documento/artigo, e os seus conflitos de interesse. O documento e o formulário para submeter propostas está aqui.

 

Alerto para termos muito cuidado ao transmitir essas informações para nossas famílias e aos pacientes, que devem ser informados dos avanços e discussões. Porém, todo exame e avaliação em saúde é passível a erros.

 

Ao informar as pessoas que o diagnóstico da patologia relacionada a doença de Alzheimer poderia ser feito olhando para exames complementares e laboratoriais, e com menor ênfase para a avaliação clínica/personalizada cuidadosa, de uma doença que é associada a prejuízo das capacidades e autonomias civis, temos que ter em mente todos os conflitos éticos relacionados a isso.

 

Restando balancear sempre o cuidado e a paciência, com o anseio dos avanços científicos, termino com essa provocação do nosso grande Machado de Assis.

 

"Suporta-se com paciência a cólica do próximo." - Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)

 

Escrito e revisado por Alan Cronemberger Andrade. Publicado em 21/07/2023 às 07:00h (UTC-3 BRT), e atualizado em 21/07/2023. Imagem de capa: @kh_led7

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