Tudo bem com vocês? Aqui desse lado, tem tido muito trabalho e estudo, um dia de cada vez. Muito respeito por todos que estão passando por momentos difíceis. Ainda não está fácil.

Cuidar dos pacientes com doença de Alzheimer e outras demências tem sido mais difícil nesses momentos. Como nem tudo são remédios, o cuidado depende de muitas variáveis rompidas com a pandemia. Mesmo concentrando a minha pratica médica na Neurologia, a Covid-19 ainda é o principal tema da saúde, pelo menos é isso que me diz o Google Trends em 05/06/21 quando estreito a busca para "Brasil" e "Saúde". Além dos efeitos diretos da doença, com riscos potenciais de mortalidade e piora do quadro cognitivo, a Covid tem ainda um peso maior nos idosos com demências.

Isso ocorre pois um melhor cuidado de doenças crônicas de forma geral, inclusive nas demências e na doença de Alzheimer, é muito importante. Pesquisas recentes publicadas por autores brasileiros com base em dados do sistema de saúde do Reino Unido, mostra algo ainda mais preocupante: que as demências e a doença de Alzheimer é um fator de risco independente para morte pela doença. Ou seja, mesmo sem outras morbidades associadas, alguém que tenha diagnóstico de demência da doença de Alzheimer ou outras doenças correlatas tem um risco aumentado de mortalidade.

A proteção dos idosos só será alcançada quando tivermos controlado a pandemia, e portanto a vacinação completa. Por isso, compartilho aqui os bons dados do estudo de Serrana (SP) divulgados em 31/05/2021, e as ótimas notícias de lá, com seus moradores vacinados pelo Instituto Butantan com a CoronaVac, a vacina mais usada por idosos no país. Foi a vacina que tomei. Houve uma redução muito significativa de mortes e casos. Penso nas vidas dos idosos e nas famílias poupadas, realmente uma notícia muito boa no meio de tantas coisas ainda complicadas e com o ritmo de vacinação lento.

Os dados de Serrana são considerados muito bons. Aqui neste vídeo tem mais detalhes.

Os efeitos em Serrana quando 95% dos seus habitantes foram completamente vacinados com a CoronaVac são bem relevantes. A redução aproximada de casos sintomáticos foi de 80%, de 86% nas internações hospitalares, e 95% nas mortes. Você pode ler mais mais informações aqui. A vacina que teve até então IFA produzido pela chinesa Sinovac e produção no Butantan em São Paulo, estava sendo questionada por ter eficácia um pouco menos que outras vacinas.

Eficácia "inicial" observada pelas vacinas disponíveis até então, com estudos da fase III. Gráfico do Statista.

Mas, qual o motivo desses dados serem considerados "mais fortes"? O motivo é que este é um tipo de estudo no mundo real, são os chamados estudos de fase IV. Os estudos em que vimos as eficácias descritas até o momento são os estudos de fase III, de onde saem os dados de eficácia e efetividade. Os estudo de fase IV são realizados já com as vacinas sendo administradas na população, são feitos com um número bem elevado de pessoas (nesse caso com cerca de 27 mil pessoas em Serrana), e são considerados assim mais próximos do ideal. Outra coisa legal disso tudo é que outro estudo de fase IV publicado pelo Ministério da Saúde do Uruguai também evidenciou que os dados são bastante positivos por lá.

Eficácia no mundo real observada pela CoronaVac, em Serrana com estudos de fase IV. Gráfico também do Statista.

Isso não é 100%, mas são números sem dúvida positivos. Devemos manter a guarda elevada e manter os cuidados. Se cuidem! E comemoremos a ciência! 😊

Texto inicialmente publicado em 05/06/2021 às 17:00h.